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instagram: @larissavaiano
a morte me pegou de surpresa
esse ano eu perdi duas pessoas muito importantes. a primeira foi a minha avó de 97 anos que partiu porque a hora dela chegou. a segunda foi uma das minhas melhores amigas de 31 anos que foi levada por conta de uma câncer.
a primeira era símbolo de imortalidade. eu sempre soube que a veria morrer, mas ela sempre foi muito lúcida e amava demais viver. ela costumava dizer que era pecado morrer, porque ela ainda tinha muitas coisas pra fazer. no dia que ela se foi eu me dei conta que a vida de todo mundo uma hora vai acabar: a dela, a minha e de todas as pessoas que eu mais amo.
a segunda era quase um espelho: uma mulher bissexual, que amava escrever e era devota as princesas da disney - mesmo com toda a consciência do problema que elas representam. testemunhar a vida dela sendo levada aos poucos escancarou a fragilidade da vida. eu posso ter a minha história interrompida a qualquer hora, independente do que eu fizer.
foram dois grandes socos no estômago.
de cara comecei a pensar porque eu me esforço tanto pra viver se tudo isso vai acabar de um jeito ou de outro. e logo em seguida me deixava maluca a ideia de que eu não suportaria ver mais pessoas que amo partir.
uma das coisas que minha avó e minha amiga tinham em comum era o tanto que elas amavam viver. elas viviam com intenção e não deixavam que as coisas acontecessem porque foi assim que alguém quis. elas desenharam suas histórias, longas ou curtas, e deixaram uma marca gigantesca em todo mundo que cruzou o caminho delas. é impossível ter conhecido uma das duas e não ter sido tocado por quem elas foram.
depois desses meses de luto, eu lido todos os dias com o medo da morte. não a minha, mas a de todas as pessoas que estão a minha volta. e isso me fez ser um pouco mais como a minha avó e minha amiga.
percebi que o tempo que eu estou com os meus pais eu olho menos no celular e mais nos olhos deles, que eu ouço mais atenta as histórias dos meus amigos, que eu tenho buscado mais afinidades com minha outra avó, que eu tenho falado mais “não's” para alguns rolês que eu não quero ir e que eu tenho levado meus sonhos mais à sério.
a verdade é que a morte tem me ensinado a viver, por mais clichê que isso seja.
além de tudo isso, ver a morte tão de perto fez com que eu me sentisse mais adulta. é algo muito estranho e até aleatório de dizer, mas quando eu era criança eu não tinha toda essa dimensão da morte. ela me traz um lembrete diário que eu não tenho um cronômetro, mas um timer - o tempo só corre pra frente, não volta mais.
eu sei que tudo isso está parecendo um discurso muito triste e depressivo, e talvez seja mesmo. mas eu queria que esse devaneio fosse mais um abraço pra quem está passando ou já passou por isso. a morte marca a gente de formas quase que definitivas e cabe à nós saber como lidar com as cicatrizes que ficam.
que venha a necessidade de chorar, desabafar e se reerguer. sinto que cheguei a pouco tempo no terceiro e o alívio foi imenso.
fez sentido?
se você estiver passando por algo parecido por aí, responde esse email e vamos conversar :)
meu aniversário
talvez você nem tenha reparado, mas há 2 semanas não chegou nenhuma cartinha pra você. o motivo foi muito nobre: meu aniversário! passei dias lindos no nordeste com a família e decidi descansar. mas eu gosto de comemorar e neste domingo vou levar meus amigos para passar um dia onde eu faço aula de tecido acrobático.
vai ter workshop e eu também preparei uma apresentação e, por isso, meu nível de ansiedade tá lá em cima.
parece bobeira, né? mas depois de velha eu comecei a ter medo das pessoas não aparecerem, de não curtirem o dia e acharem tudo uma grande besteira. no fim das contas eu tenho plena certeza que o que vai acontecer é a mesma coisa dessa tirinha.
ainda não recebe os devaneios? clica aqui :)
confia e vai!
indo na vibe de “vamos viver a vida porque é a única coisa que nos resta”, estava ouvindo uma música da Pitty das antigas e achei que ela faria muito sentido pra essa cartinha. se você precisa de uma dose extra de motivação, bota bem alto essa música e cante o mais alto que você puder.
nossa comunidade devaneeira pode crescer com a sua ajuda! compartilha essas cartinhas com quem você ama :)
Perfeição de texto: "um lembrete diário que eu não tenho um cronômetro, mas um timer - o tempo só corre pra frente, não volta mais.". Obrigada por escrevê-lo!
Oi Lari,
Me emocionei com a news dessa semana.
Tenho lidado com questões ligadas a morte e vida ultimamente também, mas diferente de você eu não perdi ninguém muito próximo, mas tenho questionado muito o que tenho feito com meu tempo viva, estou tentando mudar de profissão, não tenho me sentido feliz fazendo o que faço, e o trabalho consome muito do meu tempo, e sinto todos os dias que estou desperdiçando ele.
Enfim, é muito maluco esse negócio de viver e fazer nossas próprias escolhas e pensar que tudo isso um dia vai acabar, independente de quais foram as escolhas feitas.
Um abraço pra você!